Os Efeitos, e os defeitos da iluminação na Escultura.
Por Leo Amaral – @leo.amaral79
Às vezes, uma iluminação ruim pode aumentar em muitas horas o seu trabalho numa escultura. Com este guia vamos tentar minimizar os possíveis problemas que uma iluminação ruim pode causar.
Segundo a NBR 5413 e a NBR/ISO 8995, (sim existe uma Norma para trabalhos de precisão, como joalheria, solda fina e nosso caso: trabalhos de escultura), você precisa de uma fonte de luz com iluminância de no mínimo 750 e no máximo 1500 lux, com uma temperatura de cor de 5000 a 6500 Kelvin, o índice de reprodução de cor mínimo de 90Ra e o limite de ofuscamento de no máximo 16.
Aí você deve estar se perguntando:
“Mas o que são Lux, temperatura de cor? Por que eu preciso saber disso? Eu preciso de norma só pra colocar uma luminária na minha mesa??”.
Bem, não precisa saber da Norma, só precisa saber que ela foi criada para que fabricantes de lâmpadas e luminárias seguissem um padrão na fabricação destes elementos e conhecer alguns conceitos básicos para escolher melhor suas luminárias e lâmpadas e configurar melhor o seu espaço de trabalho porque, se tiver pouca luz vai te atrapalha a enxergar e, se tiver demais, também vai.
Como consequência, seus olhos vão se cansar muito mais rápido e de deixar trabalhar muito menos.
Vamos lá, quase tudo o que foi dito na especificação ali em cima, você encontra na embalagem da lâmpada que você está comprando.

Iluminância: é o quanto de luz uma superfície recebe de uma luminária ou lâmpada e que não é perdida ou dispersada. A iluminância é medida em Lux
Lúmens: é a unidade de medida do fluxo luminoso emitido por uma lâmpada ou luminária. Podemos considerar como o brilho da lâmpada, quanto mais lúmens maior a intensidade do brilho da lâmpada.

Imagem do centro: Aprox. 800 lumens
Imagem da direita: Aprox. 1600 lumens
Temperatura de cor: é a cor que a luz artificial reproduz se comparada a iluminação natural.

É mais fácil entender o que representa a temperatura de cor quando observamos a próxima imagem:

Quando pegamos por base essa imagem, percebemos que os tons mais frios entre 4000 e 6500 kelvin são mais indicados para o trabalho, enquanto os tons mais quentes, entre 1000 e 2700 kelvin, são indicados para descanso e atividades mais intimistas, isso porque o organismo humano fica mais alerta durante o dia, na cor mais clara e fria, e tende a ficar mais calmo e sonolento nos períodos de tarde e noite, quando a temperatura de cor é mais quente.
A temperatura de cor mais indicada para trabalhos que demandam maior atenção e alerta está na faixa dos 4000K-5000K, uma iluminação branca e fria como a luz do dia. Se você prestar atenção, vai perceber que os escritórios, hospitais, clínicas e laboratórios tem esse tipo de iluminação.
Índice de reprodução de cor: Também conhecido como IRC, é o quanto a luz artificial consegue reproduzir a cor real de um objeto quando vista sob a iluminação natural durante um dia claro. Isso é extremamente importante no momento de pintura das peças.
Imagina pintar uma peça inteira sob uma luz, e quando vir ela na luz natural, estiver completamente diferente do que você fez.

Existem ainda, alguns fatores que devem ser levados em consideração para a montagem de uma boa iluminação do espaço de trabalho:
Cintilação ou efeito estroboscópico: é quando se percebe que a lâmpada fica piscando numa velocidade muito alta. Geralmente acontece quando há mais de uma fase alimentando a iluminação ou no uso de lâmpadas de alta frequência. Deve ser sempre evitado porque pode provocar dores de cabeça, enjoos e, se a pessoa sofrer de algum desses problemas, dispara crises de enxaqueca ou crises epiléticas.
Ofuscamento: é quando uma fonte de iluminação atinge diretamente seus olhos, dificultando ou impedindo a visão de algum objeto. Você não vai gostar de tentar focar os olhos em alguma peça ou detalhe, e uma luz nos seus olhos te incomodando e te impedindo de ver o que precisa.


O ofuscamento ainda pode acontecer por reflexão, quando o material no qual é feito a mesa ou a superfície de trabalho é muito lisa e brilhante, então os raios de luz partem da luminária, batem na mesa e refletem nos seus olhos, causando o ofuscamento por reflexão.

Sombreamento: Ocorre quando algum objeto bloqueia o fluxo luminoso impedindo que o local de trabalho seja iluminado, não te permitindo ter uma boa visão da peça em que você está trabalhando. O sombreamento acontece geralmente quando você tem apena um ponto luminoso e ele está na atrás de você.

Certo, mas por que falar tudo isso antes?
Não é mais fácil só falar: “Coloque uma luminária aqui, outra ali, uma lâmpada aqui, e pronto!!! Pode meter a mão na massa!!!”
???
Sim, seria… mas com isso, você não entenderia o que está acontecendo se um problema surgir quando você está trabalhando… seus olhos ardendo, os detalhes não aparecendo, uma sonolência sem motivo, uma cor ficar completamente diferente daquilo que você pensou.
Agora que você conhece os conceitos básicos, vamos ao que interessa: Montar a iluminação ideal para você!
Você já conhece a luz, agora precisa escolher o tipo de lâmpada.
Mas qual o tipo? Quantas lâmpadas para alcançar a iluminação ideal? LED, fluorescente, incandescente ou halógena?
Provavelmente usará uma lâmpada LED, já que é a mais comum atualmente, além de ser a mais econômica. As fluorescentes estão saindo de linha e sendo substituídas, mesmo as tubulares e, as halógenas, esquentam muito pra você querer ficar debaixo delas por muito tempo.
Nas lâmpadas de LED você tem as de bulbo, as tubulares, e as fitas.
As lâmpadas de bulbo são as mais comuns, e encontradas em diversos tamanhos e voltagens, e já vem com um difusor integrado. O difusor é aquela capa branca de proteção que existe nas lâmpadas e tem uma função muito específica. O difusor serve para espalhar a luz em todas as direções criando uma iluminação mais difusa, mais suave.
Algumas lâmpadas imitam a forma das fluorescentes, mas com o difusor cristal, transparente. Esse tipo de difusor apresenta um problema na iluminação. Por não ter uma superfície para a difusão da luz costuma acontecer algumas “aberrações” na iluminação, e a iluminação zebrada é a mais comum de ocorrer.
Iluminação com difusor leitoso (translúcido):



Iluminação com difusor cristal:



As tubulares, também apresentam o difusor leitoso e o difusor cristal e infelizmente, apresentam o mesmo problema. Você já deve ter visto isso em alguma vitrine que usa esse tipo de lâmpada, uma espécie de zebrado na iluminação, várias faixas estranhas de luzes mais claras e mais escuras.
Então, quando for escolher a sua lâmpada ou luminária, dê preferência para as que têm o difusor leitoso. Fica a dica!
Pois bem, agora que já sabe quase tudo sobe lâmpadas vamos para a parte mais importante: montar iluminação da sua bancada!
Quanto de luz você vai precisar? Você já sabe que a iluminação ideal é entre 750 e 1500 lux, mas como saber quantas lâmpadas você precisa pra chegar nesse valor?
Existe um cálculo simplificado que pode ser usado para dimensionar a iluminação da sua bancada de trabalho.

Lux, é o resultado que você quer encontrar.
Lumens, é dado nas especificações da lâmpada.
Área de trabalho, é a área da sua mesa em m².
Usando a fórmula na prática, se por exemplo, sua mesa tem 60 cm de comprimento e 90 cm de largura, você vai precisar de apenas uma lâmpada LED de 9-10 w.
Lux= 800lumens/0,60×0,90 m² Lux = 800/0,54 1481 lumens/m²
Atualmente todas as lâmpadas de LED tem descrito nas embalagens a quantidade de lumens que cada uma emite, e é fácil encontrar na internet quadro com valores de lumens e potencias das lâmpadas.

E em qual posição esse ponto de luz deve estar?
Geralmente no centro da sua área de trabalho, entre 60 cm e 1,00m de altura do tampo da mesa, mas isso pode variar e depender de alguns fatores.
Com a iluminação, no alto como mostrada no exemplo a seguir, conseguimos a iluminação bem próxima a apresentada na escultura. E não podemos nos esquecer de criar um anteparo, um pequeno bloqueio na iluminação para evitar o ofuscamento da visão




Adicionando mais uma luminária em um dos dois lados, a iluminação tende a ficar como a apresentada na imagem da escultura, uma integração suave de luz e sombra, que ajuda muito a perceber e trabalhar os contrastes e volumes que vão a compor sua peça. A imagem do centro representa o posicionamento de cada uma das luzes na bancada de trabalho.



Adicionando mais uma luminária, conseguimos obter uma iluminação uniforme em praticamente toda a escultura. O cuidado que se deve tomar nessa configuração e ter lâmpadas de diferentes potências, que vão fornecer uma quantidade menor de lumens. Lembre-se do que foi dito no inicio: luz demais também pode te atrapalhar.



O ideal é fazer o cálculo da quantidade necessária, como mostrado acima, para dimensionar corretamente as lâmpadas e a quantidade ideal para o trabalho. Os cuidados a serem tomados com o uso de luminárias, como prioridade, devem ser a altura, o ofuscamento e a cintilação.
Tente deixar o foco de luz abaixo da linha do queixo, isso reduz bastante o risco de ofuscamento. Caso suas luminárias não sejam fixas procure adicionar um peso, ou alguma forma de travá-las na mesa, para evitar que um movimento de braço jogue sua luminária no chão.
Se o seu bolso permitir, tente adquitir luminárias articuladas, elas permitem variar a direção e a posição do foco de luz, o que é bem útil.
E por fim, mas não menos importante, lembre-se e obrigue-se a fazer pausas!
As lâmpadas de LED conseguem replicar com fidelidade o espectro da luz do dia. Então, seu organismo vai trabalhar por mais tempo do que deveria, já que seus olhos vão sempre achar que é dia claro.
Cuide-se! Não vai ser incomum você começar a trabalhar as 18:00 e não perceber que já são 4:00 da madrugada… como já aconteceu comigo…. algumas vezes… durante a semana….
Um abraço Padawan!
Qua a força escultórica esteja sempre com você!
Que Tutorial de respeito!!!